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A paixão pelo mundo árabe surgiu nas tardes de minha infância, ao assistir o seriado Jeannie é um Gênio, pois, junto à comédia dos anos cinquenta, havia números de dança árabe, como nos filmes egípcios. Em maio de 2000, comecei a tomar aulas com Rosilene Santos. De início, achei que não conseguiria, pois, na realidade, a dança trabalha o feminino. Aos poucos e com paciência fui descobrindo a beleza de cada movimento, de cada acorde musical. Percebi que, apesar de ser um pouco diferente, a cultura árabe não está tão distante assim de nós, brasileiros. Em 2005 iniciei os estudos do árabe para entender as letras das músicas árabes. Unido a esse conhecimento, veio o interesse pela música e cultura árabes. Em 2006 fui admitida como professora no Zahra Studio de Dança do Ventre, principiando minha jornada como mestra/pesquisadora da dança oriental. Em 2008 fundei o Harém Centro de Danças no Sudoeste e, em 2010 fiz a transferência da escola para Taguatinga. Busco entender a dança, de modo geral, e a dança do ventre, de modo específico, como forma de o ser humano se expressar num mundo conturbado e caótico. E posso afirmar que cada passo tem trazido gratas surpresas e plena alegria!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Que importância há em saber o significado das músicas árabes?



Osama el-Gohary, músico egípcio que reside no Texas, enviou uma mensagem para a lista de discussão sobre a questão de bailarinas de dança árabe americanas utilizarem músicas religiosas para dançar.

Houve várias manifestações contra e a favor a esse assunto. Muitos bailarinos e estudantes de dança árabe alegaram que são bailarinos americanos e que dançavam por hobby, e, dessa forma, ninguém teria o direito de dizer-lhes o que deveriam ou não dançar. Outros, entretanto, concordaram plenamente com as observações de el-Gohary e lamentaram a falta de traduções para as músicas disponíveis para a dança árabe.

Quando se aprende ou se compreende mais a respeito deste tipo de música, mais é perceptível que os bailarinos podem interpretá-la melhor. Ao conhecer o significado das letras, a escolha do tipo de canção para dança será facilitada.

Por exemplo, o álbum com as melhores canções de Emad Sayyah (Best Songs: Emad Sayyah), parece permitir a composição de uma rotina de dança a ser apresentada. Entretanto ao ler as traduções das faixas 4 e 5 disponíveis no encarte do disco, descobre-se que usá-las é no mínimo temeroso. As letras falam sobre o imigrante desejoso de voltar para casa e sobre a existência de uma linha de telefone livre para Beirute. Um imigrante, que está longe de casa por conta da guerra civil no Líbano. É necessário bom senso para interpretá-las bem ou descartá-las. Mas há outras canções no CD que falam sobre dançar, tocar o derbaque, ou que repete várias vezes Leila ya Leila ("Oh minha noite!").

Adayna, professora de dança em Phoenix-USA, relata a seguinte experiência: ela dançara com a espada utilizando uma canção árabe particularmente bonita. Uma mulher na platéia que falava árabe veio até ela e disse: "você é uma bailarina maravilhosa, mas por favor não utilize essa canção para dançar, pois ela é uma canção muito, muito, muito triste."

Robyn Friend, autoridade e performer em dança e música persa nos Estados Unidos, disse que se alguém não sabe o que está dançando pode vir a cometer terríveis erros. Ele postou uma mensagem para um fórum de discussão sobre dança e música árabe em outubro de 2002, com seguinte teor:

"Eu fui informado de que ocorreu um incidente em um concerto do músico turco Omar Faruk Tekbilek. Eu não estava na platéia, mas alguém que estava lá e que tem conhecimento da minha amizade com Faruk e de nosso respeito mútuo – e que sabe do meu interesse pelo assunto – pediu que eu abordasse este tema na lista, na esperança de que juntos possamos levar o conhecimento a toda a comunidade de dança.

Faruk se apresentou no Sacred Music Festival (Festival de Música Sacra), em Los Angeles. Quando Faruk tocava música sufi, recitando os belos nomes de Deus (Allah), um grupo de quinze a vinte mulheres levantou-se e começou a dançar em frente ao palco. Isso foi altamente inapropriado para duas razões:

  • primeiro, embora eu saiba que nós, bailarinos, gostemos de dançar com uma música que nos mova, não é educado colocar-se à frente de um palco e dançar sem ser convidado. Isto é fato, não importando o tipo de música! Tal comportamento mostra uma falta de respeito para com os artistas, e para com as outras pessoas que estavam na platéia. Além de causar distração;
  • segundo, a música sufi não é para se realizar dança árabe, e fazê-lo com esse tipo de música em um contexto como aquele pode ser altamente ofensivo para o povo árabe.


Minha filosofia pessoal é: Se sua atitude é ofensiva de alguma maneira e refreá-la não causa ofensa, então é melhor refreá-la."

Em outra mensagem enviada a essa lista, uma professora de dança contou que uma de suas estudantes mostrou uma música que ela gostaria de coreografar. Então a professora informou-lhe que não poderia fazê-lo, uma vez que a música era "a convocação para oração"!

Em seus excelentes ensaios sobre o assunto, Osama el-Gohary vai mais além com relação à interpretação das músicas dada pela bailarina. Naturalmente, esse tipo de interpretação não é possível sem o conhecimento do significado das letras!

Há uma razão mais abrangente para saber o significado das letras!

A tragédia de 11 de setembro nos tornou conscientes da distância e da falta da conhecimento entre as culturas do Ocidente e do Oriente. Quanto mais soubermos sobre o que as canções estão dizendo, mais nós compreenderemos essa cultura que nos dá muita alegria.

As discussões após essa tragédia demonstraram que, infelizmente, há muitas bailarinas de dança árabe ocidentais que realmente não se importam muito com a cultura que emoldura a música que elas amam dançar. Uma atitude que – no mínimo – sinaliza a arrogância generalizada de vários povos ocidentais diante de culturas diferentes das suas.

Entretanto há muitos ocidentais que amam a música árabe e que também estão interessados em compreender um pouco mais sobre a cultura e sobre os povos dos quais ela emana!

A última razão para se conhecer o significado das letras é que elas são em sua maioria muito bonitas! Muitas são poemas encantadores!

Em suma, saber o significado das letras das canções árabes pode evitar que:


  • bailarinos ocidentais errem na interpretação de uma canção;
  • se apresentem com uma canção inapropriada; 
E pode:
  • favorecer a compreensão da cultura árabe;
  • permitir que haja a apreciação da beleza dos sentimentos expressados na canção.

REFERÊNCIAS


CLARK, Lennie 'Iliana'. Why is it important to know what the lyrics mean? 2002. Disponível em: http://www.shira.net/music/why-know-lyrics-meaning.htm. Acesso em: 25-10-2010.


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