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Brasília, Distrito Federal, Brazil
A paixão pelo mundo árabe surgiu nas tardes de minha infância, ao assistir o seriado Jeannie é um Gênio, pois, junto à comédia dos anos cinquenta, havia números de dança árabe, como nos filmes egípcios. Em maio de 2000, comecei a tomar aulas com Rosilene Santos. De início, achei que não conseguiria, pois, na realidade, a dança trabalha o feminino. Aos poucos e com paciência fui descobrindo a beleza de cada movimento, de cada acorde musical. Percebi que, apesar de ser um pouco diferente, a cultura árabe não está tão distante assim de nós, brasileiros. Em 2005 iniciei os estudos do árabe para entender as letras das músicas árabes. Unido a esse conhecimento, veio o interesse pela música e cultura árabes. Em 2006 fui admitida como professora no Zahra Studio de Dança do Ventre, principiando minha jornada como mestra/pesquisadora da dança oriental. Em 2008 fundei o Harém Centro de Danças no Sudoeste e, em 2010 fiz a transferência da escola para Taguatinga. Busco entender a dança, de modo geral, e a dança do ventre, de modo específico, como forma de o ser humano se expressar num mundo conturbado e caótico. E posso afirmar que cada passo tem trazido gratas surpresas e plena alegria!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O ovo da serpente e o mercado da dança do ventre: meditações sobre ética profissional

Nêmesis, deusa da ética.
Alfred Rethel.
(Óleo sobre tela, 1837).

Há cerca de oito anos (3-3-2002), durante o Primeiro Simpósio de Dança do Ventre em São Paulo, foi publicado o Código de Ética da Dança do Ventre, sob a iniciativa de Shalimar Mattar, editora do jornal Oriente, Encanto e Magia, com a colaboração de várias pessoas envolvidas com a dança do ventre (professoras, bailarinas e estudantes). O código objetiva organizar e valorizar o segmento envolvido com a dança do ventre no Brasil.

Achei a iniciativa louvável e, claro, participei com sugestões e observações
(sou a participante nº 239 – vide
http://www.orienteencantoemagia.com.br/_entrada/participantescodigo.htm);
entretanto, após todo esse tempo, gostaria de ressaltar que não tem havido aplicação prática desse código de orientação por parte dos indivíduos que atuam na dança do ventre, mais especificamente em Brasília, cidade onde moro.



Com a crise mundial, nesses últimos meses, observou-se uma queda expressiva no mercado da dança do ventre relativo a shows e ao ensino. É claro que esse mercado não está isolado de outros mercados. Sejam eles relativos à dança, ou não. Diante dessa constatação, é óbvio que a dança do ventre iria ser atingida, pois quando é necessário fazer-se corte no orçamento para equilibrar as contas, as pessoas o fazem nas áreas que julgam supérfluas. Desse modo, as danças, os hobbies e os cursos que não estejam ligados precipuamente ao aperfeiçoamento profissional são logo retirados da lista. Com medo da seriedade da crise, as pessoas ou estão sendo mais criteriosas ao gastar, ou efetivamente não estão consumindo como antes.

Isso é um fato e é perfeitamente natural!

Entretanto o que preocupa são as seguintes constatações:

– prática de concorrência desleal e até predatória;
– propagação de inverdades e até mesmo mentiras sobre a dança do ventre e todo o universo que a
   envolve;
– orientação equivocada sobre a postura a ser adotada em vários lugares, sejam eventos, encontros etc.;
– incentivo ao imediatismo para o aprendizado em sala de aula.

Pude verificar que tem-se alastrado no ramo da dança do ventre, desde longa data, uma prática condenável em qualquer ramo comercial: o dumping.

O estabelecimento por academias e estúdios de preços inferiores aos praticados pelo mercado para pagamento de mensalidades é inaceitável! Tal hábito atinge diretamente os recebimentos dos professores, que têm-se mostrado enormemente desmotivados, pois a baixa remuneração afeta a capacidade de investir na reciclagem e na busca de atualização de conteúdos para o ensino.

A situação com relação aos shows e aos cachês pagos beira o escândalo! Os preços baixos praticados pelas bailarinas de dança do ventre desvalorizam a categoria. Outra atitude execrável é a concorrência desleal e antiética ao se oferecer um show abaixo do que está estabelecido por uma profissional que por ventura esteja se apresentando num determinado local. Deve-se ter cuidado com essas armadilhas! Os comerciantes e contratantes particulares querem acima de tudo reduzir seus custos e a atitude ética é o que menos importa para eles.

Outro ponto é a propagação de inverdades sobre as bases da dança do ventre, que vão desde as informações a respeito da origem e da história, as habilidades necessárias para a prática e o tempo que se leva para aprender, até as orientações sobre como se comportar em sala de aula, shows ou encontros. É preocupante o imediatismo presente em sala de aula para o aprendizado da dança.

Estamos diante de um impasse! Temos que reavaliar totalmente nossa postura, tendo em vista essas constatações. Nós, como profissionais, é que devemos primar por uma conduta adequada diante de nossos pares, pois são eles que nos apoiam (ou isolam) no meio da dança do ventre.

Devemos ter o pé no chão! Quem consome dança do ventre é quem faz e produz dança do ventre (aluna, professora, bailarina e empreendedor). Ao se tentar boicotar um ou outro produtor de dança do ventre, o que se atinge é o mercado potencial que consumirá dança do ventre. No melhor estilo do adágio popular: atira-se no que se vê, mas acerta-se no que não foi visto. Na área de dança árabe, essa mira não tem sido positiva. Concretamente esse boicote é um tiro no pé (ou seria na cabeça!), pois atinge também quem boicota. É uma questão de lógica! Tudo está interligado.

A concomitância de eventos no nosso meio (workshops, shows e espetáculos) tem demonstrado a postura de impedir que as alunas conheçam outros estilos e outras escolas. As pessoas são livres e têm também pensamento e ação livres. E quem se deixa aprisionar por qualquer não pode isso, não pode aquilo demonstra que estará mesmo à mercê da vontade dos outros.

Essas ações demonstram a inexorável gestação de um ovo de serpente. O que pode produzir um ovo de serpente de positivo? Através de sua membrana transparente pode-se acompanhar o desenvolvimento do monstro que está sendo gerado. Ao ser chocado, somente sairá dele uma serpente pronta para realizar sua missão maléfica de destruição, pois o veneno, além de trazer risco de morte, possue propriedade necrosante, destruidora.

O ovo de serpente, que está posto no meio da dança do ventre, corroerá (se é que já não correu!) por dentro nossos valores, nossas crenças. Se chocado, por sua natureza, se tornará nocivo. Assim, faz-se necessário destrui-lo, enquanto está na casca, da mesma forma como o fez Brutus ao matar o monarca Júlio César nas escadas do Senado romano, logo depois de justificar a necessidade de que ele deveria ser morto:
Preciso é que ele morra.    (...) É o dia claro que     as   serpentes chama, aconselhando-nos a andar com jeito. (...) Mas é coisa sabida em demasia que a humildade para a ambição nascente é boa escada. Quem ascende por ela, olha-a de frente; mas, uma vez chegado bem no cimo, volta-lhe o dorso, e as nuvens, só, contempla, desprezando os degraus por que subira. César assim fará. (...) Consideremo-lo ovo de serpente que, chocado, por sua natureza, se tornará nocivo. Assim, matemo-lo, enquanto está na casca. (Júlio César, de William Shakespeare).


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