A paixão pelo mundo árabe surgiu nas tardes de minha infância, ao assistir o seriado Jeannie é um Gênio, pois, junto à comédia dos anos cinquenta, havia números de dança árabe, como nos filmes egípcios.
Em maio de 2000, comecei a tomar aulas com Rosilene Santos. De início, achei que não conseguiria, pois, na realidade, a dança trabalha o feminino. Aos poucos e com paciência fui descobrindo a beleza de cada movimento, de cada acorde musical. Percebi que, apesar de ser um pouco diferente, a cultura árabe não está tão distante assim de nós, brasileiros.
Em 2005 iniciei os estudos do árabe para entender as letras das músicas árabes. Unido a esse conhecimento, veio o interesse pela música e cultura árabes.
Em 2006 fui admitida como professora no Zahra Studio de Dança do Ventre, principiando minha jornada como mestra/pesquisadora da dança oriental.
Em 2008 fundei o Harém Centro de Danças no Sudoeste e, em 2010 fiz a transferência da escola para Taguatinga.
Busco entender a dança, de modo geral, e a dança do ventre, de modo específico, como forma de o ser humano se expressar num mundo conturbado e caótico.
E posso afirmar que cada passo tem trazido gratas surpresas e plena alegria!
Nêmesis, deusa da ética. Alfred Rethel.
(Óleo sobre tela, 1837).
Há cerca de oito anos (3-3-2002), durante o Primeiro Simpósio de Dança do Ventre em São Paulo, foi publicado o Código de Ética da Dança do Ventre, sob a iniciativa de Shalimar Mattar, editora do jornal Oriente, Encanto e Magia, com a colaboração de várias pessoas envolvidas com a dança do ventre (professoras, bailarinas e estudantes). O código objetiva organizar e valorizar o segmento envolvido com a dança do ventre no Brasil.
Achei a iniciativa louvável e, claro, participei com sugestões e observações (sou a participante nº 239 – vide
http://www.orienteencantoemagia.com.br/_entrada/participantescodigo.htm);
entretanto, após todo esse tempo, gostaria de ressaltar que não tem havido aplicação prática desse código de orientação por parte dos indivíduos que atuam na dança do ventre, mais especificamente em Brasília, cidade onde moro.
Com a crise mundial, nesses últimos meses, observou-se uma queda expressiva no mercado da dança do ventre relativo a shows e ao ensino. É claro que esse mercado não está isolado de outros mercados. Sejam eles relativos à dança, ou não. Diante dessa constatação, é óbvio que a dança do ventre iria ser atingida, pois quando é necessário fazer-se corte no orçamento para equilibrar as contas, as pessoas o fazem nas áreas que julgam supérfluas. Desse modo, as danças, os hobbies e os cursos que não estejam ligados precipuamente ao aperfeiçoamento profissional são logo retirados da lista. Com medo da seriedade da crise, as pessoas ou estão sendo mais criteriosas ao gastar, ou efetivamente não estão consumindo como antes.
Isso é um fato e é perfeitamente natural!
Entretanto o que preocupa são as seguintes constatações:
– prática de concorrência desleal e até predatória;
– propagação de inverdades e até mesmo mentiras sobre a dança do ventre e todo o universo que a
envolve;
– orientação equivocada sobre a postura a ser adotada em vários lugares, sejam eventos, encontros etc.;
– incentivo ao imediatismo para o aprendizado em sala de aula.
Pude verificar que tem-se alastrado no ramo da dança do ventre, desde longa data, uma prática condenável em qualquer ramo comercial: o dumping.
O estabelecimento por academias e estúdios de preços inferiores aos praticados pelo mercado para pagamento de mensalidades é inaceitável! Tal hábito atinge diretamente os recebimentos dos professores, que têm-se mostrado enormemente desmotivados, pois a baixa remuneração afeta a capacidade de investir na reciclagem e na busca de atualização de conteúdos para o ensino.
A situação com relação aos shows e aos cachês pagos beira o escândalo! Os preços baixos praticados pelas bailarinas de dança do ventre desvalorizam a categoria. Outra atitude execrável é a concorrência desleal e antiética ao se oferecer um show abaixo do que está estabelecido por uma profissional que por ventura esteja se apresentando num determinado local. Deve-se ter cuidado com essas armadilhas! Os comerciantes e contratantes particulares querem acima de tudo reduzir seus custos e a atitude ética é o que menos importa para eles.
Outro ponto é a propagação de inverdades sobre as bases da dança do ventre, que vão desde as informações a respeito da origem e da história, as habilidades necessárias para a prática e o tempo que se leva para aprender, até as orientações sobre como se comportar em sala de aula, shows ou encontros. É preocupante o imediatismo presente em sala de aula para o aprendizado da dança.
Estamos diante de um impasse! Temos que reavaliar totalmente nossa postura, tendo em vista essas constatações. Nós, como profissionais, é que devemos primar por uma conduta adequada diante de nossos pares, pois são eles que nos apoiam (ou isolam) no meio da dança do ventre.
Devemos ter o pé no chão! Quem consome dança do ventre é quem faz e produz dança do ventre (aluna, professora, bailarina e empreendedor). Ao se tentar boicotar um ou outro produtor de dança do ventre, o que se atinge é o mercado potencial que consumirá dança do ventre. No melhor estilo do adágio popular: atira-se no que se vê, mas acerta-se no que não foi visto. Na área de dança árabe, essa mira não tem sido positiva. Concretamente esse boicote é um tiro no pé (ou seria na cabeça!), pois atinge também quem boicota. É uma questão de lógica! Tudo está interligado.
A concomitância de eventos no nosso meio (workshops, shows e espetáculos) tem demonstrado a postura de impedir que as alunas conheçam outros estilos e outras escolas. As pessoas são livres e têm também pensamento e ação livres. E quem se deixa aprisionar por qualquer não pode isso, não pode aquilo demonstra que estará mesmo à mercê da vontade dos outros.
Essas ações demonstram a inexorável gestação de um ovo de serpente. O que pode produzir um ovo de serpente de positivo? Através de sua membrana transparente pode-se acompanhar o desenvolvimento do monstro que está sendo gerado. Ao ser chocado, somente sairá dele uma serpente pronta para realizar sua missão maléfica de destruição, pois o veneno, além de trazer risco de morte, possue propriedade necrosante, destruidora.
O ovo de serpente, que está posto no meio da dança do ventre, corroerá (se é que já não correu!) por dentro nossos valores, nossas crenças. Se chocado, por sua natureza, se tornará nocivo. Assim, faz-se necessário destrui-lo, enquanto está na casca, da mesma forma como o fez Brutus ao matar o monarca Júlio César nas escadas do Senado romano, logo depois de justificar a necessidade de que ele deveria ser morto:
Preciso é que ele morra. (...) É o dia claro que as serpentes chama, aconselhando-nos a andar com jeito. (...) Mas é coisa sabida em demasia que a humildade para a ambição nascente é boa escada. Quem ascende por ela, olha-a de frente; mas, uma vez chegado bem no cimo, volta-lhe o dorso, e as nuvens, só, contempla, desprezando os degraus por que subira. César assim fará. (...) Consideremo-lo ovo de serpente que, chocado, por sua natureza, se tornará nocivo. Assim, matemo-lo, enquanto está na casca. (Júlio César, de William Shakespeare).
A Península Arábica foi habitada desde 5000 a.C. Entre 4000-2000 a.C., os estabelecimentos ao longo da costa oriental da península dominaram o comércio entre a Índia e a Mesopotâmia. Os povos desta área tiveram sempre estreitos laços com os povos do noroeste da Índia e do Paquistão.
Em torno de 3000 a.C., o sudoeste da Arábia transformou-se a principal rota de comércio entre a Índia e as civilizações mediterrâneas. O incenso e a mirra, o café, os temperos e o algodão foram adicionados à riqueza deste comércio. Os comerciantes chegavam ao porto de Aden, em seguida os bens eram transportados para o norte em caravanas de camelos ao longo da costa ocidental. Alguns arqueólogos acreditam que a famosa rainha de Sabá era oriunda do sul da Arábia e viajou para o norte ao longo desta rota de comércio para encontrar com o rei Salomão. O comércio diminuiu na segunda parte do século (três mil toneladas de incenso), quando os gregos e, depois, os romanos encontraram rotas de comércio alternativas.
As cidades importantes ao longo desta rota do comércio de caravana incluíam Medina e Meca, pois o profeta Maomé nasceu em Meca e mudou-se para Medina em 622 d.C. em consequência da perseguição religiosa.
A Península Arábica tem uma longa história de migração, de regionalismo e de autonomia tribal, além da influência dos persas, dos egípcios e do Império Otomano. A família de Saud mudou-se para a região central seca da Península no século XV e aumentou seu controle nas áreas centrais e ocidentais, enquanto a influência do Império Otomano passou a diminuir. Em 1932, o Reino da Arábia Saudita, que cobre aproximadamente oitenta por cento desta península, foi fundado.
FIGURINO E UTILIZAÇÃO DE CORES
Para discorrer sobre a dança e o figurino khaliji com uma terminologia étnica apropriada é necessário entender que: usar roupa fechada como meio de conservar a umidade e proteger o corpo do sol é tradicional na Península Arábica.
As roupas típicas tradicionais muito largas, longas e ricamente bordadas são usadas na execução de uma dança que frequentemente nos referimos como “dança das mulheres sauditas” ou “dança do Golfo”, geralmente colocadas por cima da roupa normal ou da típica roupa de dança do ventre.
Este vestido tradicional teve originalmente variações regionais, entretanto o uso difundido da máquina de costura nos últimos trinta anos e a modernização e a urbanização da Península Arábica resultaram no tobe (bata, caftan, toga, vestido, capa, galabia) ou thawb nashal, originalmente usado no Najd, ou Arábia Central, transformando-se depois no traje tradicional das mulheres ao longo da área do Golfo.
E como esse vestido largo é realmente chamado?
O tobe nashal é uma capa grande, semitransparente. Era usado sobre a roupa normal (dharaah ou caftan, usualmente com cavas bordadas) e sobre a sirwaal (calças com as faixas bordadas no tornozelo de origem turca).
Os sauditas parecem referir-se ao vestido como o tobe. Os kuwaitianos chamam-no de darrah zerri (darRAH ZERri). Darrah é um termo geral para vestido e zerri é traduzida como lantejoula.
Os catarianos parecem ter diferentes nomes para esta vestimenta, podendo chamá-la de:
tobe el neshel (tobe el NESHel), porém é difícil encontrar o real significado para a palavra neshel; basicamente podendo-se traduzir como bordado;
darrah zerri;
tobe tawoose (tobe taWOOS), que significa vestido de pavão.
O pavão é um dos temas mais comuns do bordado, comumente executado pelos artesãos do noroeste da Índia e do Paquistão, que produziram tecidos e bordados para os povos da Península Arábica por muitos séculos. O Barein também produz bonitos tobes.
O tobe é feito de tecidos como o chiffon ou a seda pura, que denotava status social e riqueza. A túnica é sempre bordada no peito, nas bordas das mangas, na barra, na parte de trás e em outros lugares. A decoração é farta, utilizando-se para as costuras linha metálica dourada e prateada em sentido vertical ou bordado de seda e paetês, além de, às vezes, aplicarem-se jóias ou pequenos guizos. A parte dianteira da abbay (bisht), roupa masculina, também é bordada com as mesmas linhas.
Alguns dos mais famosos vestidos femininos do Catar, el neshel, el tawoose e el darrah, possuem cores brilhantes e são decorados com ornamentos artísticos. Uma característica incomun do tobe é o reforço das cavas com muito bordado, que é usualmente retirado de uma capa antiga já desgastada e aplicado sobre outra, mais nova.
O tobe é chamado por vezes de vestido de casamento, porque era o traje do Najd para a cerimônia de casamento. A noiva usa-o na cor branca, embora a cor preta com bordado dourado seja comum para as outras mulheres.
Hoje em dia, as mulheres árabes vestem o tobe sobre sua roupa de festa quando dançam (em uma festa ou numa celebração). As jovens também podem usar este traje tradicional para apresentações na escola.
Tipos de tobe.
DANÇA
A evolução da dança levanta muitas dúvidas para quem quer estudar a fundo. Se olharmos a dança como uma extensão da cultura de distintos povos, nós poderemos traçar suas origens. Num ambiente global, isto está-se tornando cada vez menos possível. Devemos tirar vantagem do conhecimento da tradição, enquanto ainda podemos fazê-lo.
Em árabe, khaleege ou khaliji significa: relativo ao Golfo. Pronuncia-se /raligi/. Está relacionado ao estilo nativo de música dos países do Golfo Pérsico, hoje Península Arábica, que são, dentre outros, Arábia Saudita, Barein, Emirados Árabes, Kuwait, Omã e Catar.
Na dança do ventre, as bailarinas utilizam-na para identificar o estilo de música e de dança desta região. Ficou conhecida como “a dança das mulheres sauditas”. Nomenclatura equivocada, uma vez que há não relatos conclusivos a respeito da origem da dança.
A raks khaliji é uma dança tradicional de confraternização, praticada somente pelas mulheres, que interagem entre si, para se divertirem, ainda hoje, em festas e em momentos de celebração, como casamentos.
Anteriormente na maioria dos países árabes, as mulheres dançavam somente para e com outras mulheres. Entretanto com a evolução da dança nas sociedades mais modernas do Oriente Médio nouveau riche, em algumas regiões agora é aceitável apresentar-se em reuniões mistas.
A dança é executada em grupos ou em pares e é, em sua maior parte, improvisada e, portanto, é possível ver muitas mudanças na forma. Segundo Campbell, as bailarinas repetem os passos várias vezes, improvisando dentro de uma estrutura de movimentos tradicionais, enquanto permitem que a bailarina mais inteligente e mais original inove.
Azar afirma que as jovens que se levantam e dançam estão cônscias da observação e da possível consideração das mulheres que permanecem sentadas. Elas podem ser escolhidas para se casar com um filho, um irmão, um primo ou outro parente do sexo masculino.
É importante ressaltar que esta dança não é executada em toda parte do Golfo. Os omanis (pessoa natural de Omã), por exemplo, não executam esta dança, uma vez que não faz parte de sua herança cultural.
Os sauditas chamam-na de raks al khaliji, que significa dança do golfo. As mulheres ficam separadas dos homens e são acompanhadas por músicos mulheres. As mais velhas não gostam que as jovens sejam tímidas e incentivam-nas a se levantar e a dançar. Os catarianos (habitante do Catar) parecem estar de acordo com seus companheiros wahabitas, os sauditas, e usualmente chamam a dança de raks khaliji.
No Kuwait é chamada de Samri (SAUMri), devido ao ritmo que a acompanha. Samri é um ritmo lento e, a execução tradicional da dança não é muito rápida. Hoje em dia, este ritmo aparece junto a outros ritmos mais vividos e tem recebido acréscimos de movimentos e de sentimentos que variam de país para país. As mulheres às vezes realizam um desafio amigável, no qual deixam crescer o cabelo para enriquecer sua dança. Os homens e as mulheres ficam em lados opostos de um salão.
Nos Emirados Árabes, a dança das mulheres é chamada na'ashat, em alusão aos movimentos realizados com o cabelo ao som do ritmo. Em Abu Dhabi, capital dos Emirados, é conhecida como a raks neshat (raks neSHAT).
Os nativos do Golfo realçam a falta de naturalidade das tentativas das bailarinas egípcias de executar a Samri. Os movimentos são demasiado grandes e os pés estão demasiado distantes, além das interpretações da dança deixarem a desejar.
MÚSICA E RITMO
Música
Um dos aspectos mais marcantes da música do Golfo é a maneira gutural de empostar a voz, diferente do canto operístico, no qual a voz é trabalhada no timbre, na tessitura e na afinação. Nas festas populares, o canto, muitas vezes coletivo, é acompanhado por instrumentos de percussão que podem ser substituídos ou ajudados por instrumentos de sopro.
Nas cidades, temos o violino, o alaúde e o kanun (ancestral da harpa), e, mais recentemente, o órgão eletrônico ou teclado, amplamente usado devido à diversidade de recursos oferecidos e à compensação de algumas deficiências musicais, como criatividade e domínio técnico.
Além das canções para as festividades, onde tomam parte danças elaboradas, outros gêneros são usados em corridas de cavalos, em nascimento de camelos, ou para simples diversão com jogos rápidos de palavras.
Várias mudanças vêm ocorrendo no Golfo desde o começo do século, e a principal razão é a comercialização do petróleo, que permitiu a esses países alcançar uma riqueza jamais experimentada em sua história. O povo hoje tem acesso a todo o tipo de modernidade e tecnologia, o que provoca alterações nos hábitos e costumes.
Nas gravações modernas vemos forte influência do estilo egípcio e da tecnologia de estúdio, disseminados largamente por todo Oriente Médio. É a música de consumo, que lança cantores pop em shows de TV e em clipes e que alcança grande vendagem de discos.
Atualmente a música khaliji é bastante ouvida, além de acompanhar a música moderna, especialmente nos Emirados Árabes. Um cantor saudita que a exemplifica é Mohammed Abdou.
Os governos têm estimulado a criação de conservatórios nacionais para favorecer produção de música com identidade nacional. Os cantores desse gênero mais elaborado são convidados para turnês e festivais pelos países árabes, o que termina por influenciar os artistas locais.
Ritmo
Grupo masculino de raks khaliji.
Hoje em dia o khaliji é executado frequentemente com música popular moderna. Há, porém, um ritmo tradicional específico e muito distinto, o ritmo adani do Iêmen, que os músicos ocidentais chamaram de saudi ou saudita ou de khaliji, hipnótico com andamento 2/4 (pausa 1+2) com duas batidas pesadas e uma pausa, caracterizado pelo toque sincopado do tabel e pela música tradicional com o alaúde.
Hossam Ramzy, percussionista egípcio, certifica que não existe somente um ritmo chamado khaliji. Os ritmos da área do Golfo são centenas. Todos são chamados de khaliji. A maioria dos ritmos desta área sofreram ou sofrem fortes influências, principalmente das tribos do deserto, das rotas da seda, dos temperos e do comércio de escravos da África Central, que normalmente levava vários ritmos com ela. A velocidade do ritmo varia de tribo para tribo e também de acordo com a emoção própria da canção.
COREOGRAFIA E GESTUAL ENVOLVIDO
A bailarina usa um passo sincopado ou mancado. Um pé no chão marca a batida pesada e o outro, em meia ponta, marca a meia batida. O passo dado pela meia ponta levanta a bailarina e dá ao passo a característica leve de subida/descida. A bailarina move-se no sentido do pé que está no chão, com o outro pé em meia ponta ligeiramente atrás ou cruzado à frente do pé que lidera.
Este mancado ou passo sincopado é similar aos usados em danças de vários países como o Marrocos e o Afeganistão, na dança nuba (Egito), e no balé russo. O que não surpreende, devido à história de dominação naquela região.
A pausa do ritmo permite também uma mudança na passada de um lado para o outro (EsqDirEsq DirEsqDir), neste caso o passo que eleva é enfatizado para promover a mudança do pé que está no chão.
É possível verificar em tribos que vivem originalmente ao longo da costa oriental da Península Arábica, vários movimentos corporais tradicionais. No Najd, ou área central isolada, que hoje é a Arábia Saudita, presumivelmente eles seriam diferentes.
A raks khaliji é caracterizada pelos seguintes movimentos:
de cabeça, utilizando-se um deslizar lateral com a parte da frente da roupa segurada longe do corpo e/ou escondendo parte do rosto ou realizando oitos ou ondulações;
de corpo, de forma lenta, suave, delicada e bem marcada;
de tronco, podendo balançá-lo ou ondulá-lo;
de mãos, realizando torções e vibrações, ou gestos, como aproximá-las ao lado do nariz;
de braços, com determinadas posições e molduras;
de ombros, tais como o xime, enfatizado pelo bordado do traje;
de quadris, para cujo encontro o traje pode ser puxado para enfatizar seus movimentos, que de outra maneira não poderiam ser vistos sob o volume da bata;
de pés, cujo trabalho é muito simples e rítmico;
de cabelo, cujo papel fundamental é na dança khaliji (por isso as mulheres têm muito orgulho de seu belo cabelo). Eles podem ser jogados de um lado para o outro, para a frente e para trás, ou quando ajoelham-se na parte mais dramática da música;
evoluções, nas quais o vestido khaliji assume a forma de moldura (podendo ser preso em uma das mãos; deixando-o mover-se em torno do corpo; ou, colocando-o sobre a cabeça como um véu, pois a bata é larga e possui cavas enormes).
As mulheres de todas as idades deixam seu cabelo voltados para baixo ao executar a dança. As que tem os cabelos mais longos e mais bonitos lideram a dança principal. As senhoras idosas e casadas geralmente são reprimidas em sua vontade de dançar, contudo a mais tradicionalista e mais conservadora, num momento festivo, pode retirar seu véu (hijab ou véu islâmico) para marcar a batida com o cabelo solto, balançando para direita, e depois para a esquerda, até chegar ao ponto de poder executar oitos atrás da cabeça.
Supostamente esta dança está ligada à simulação de acontecimentos cotidianos no Golfo. Há movimentos reputados à imitação do gestual dos cavalos que elevam suas cabeças, ou balançam suas crinas, por exemplo. Ou que originalmente era uma reprodução dos fatos que envolviam a pesca de pérola e a vida no mar. O vestido é balançado em movimentos ondulantes para imitar a ação das ondas.
As bailarinas tocam com a mão ao lado do nariz como um mergulhador o faz ao descer ao fundo das águas em busca das ostras, ou simulam o nado das tartarugas ou o remo dos barcos. O cabelo é jogado numa mímica das algas que flutuam nas correntes do oceano. Há incontáveis interpretações!
As viagens e a televisão dão às mulheres noções do que é realizado em termos de dança, tanto que nós podemos perceber que mulheres sauditas adicionaram um pequeno ondular com seus quadris, um movimento emprestado de uma dança iraquiana. Há um videoclipe, no qual uma mulher imita o gesto de Fifi Abdo, agitando seu tronco acompanhado com uma das mãos. Há muitos acentos e movimentos bastante diferentes do tradicional Samri, dependendo de onde se vive e a que se foi exposto.
Atualmente nos shows profissionais realizados em casas de show ao longo da Península Árabica, a bailarina não utiliza mais a bata. Provavelmente devido à necessidade de mostrar os movimentos realizados pelo quadril, que estão mais vigorosos. Essa tendência tem sido chamada de khaliji moderno.
Veja a bela Warda Maravilha dançando nos Emirados Árabes:
REFERÊNCIAS
ABDULAZIZ, Leila; AZAR, Aisha. Raqs Nejdi hadith: workshop notes. May 2002.
ABERCOMBRIE, T. Arabia’s frankincense trail. National Geographic, v. 168, n.4, p. 474-513, Oct. 1985.
ALIREZ, Marianne. Women of Arabia. National Geographic, v. 172, n. 4, p. 423-453, Oct. 1987.
AZAR, Aisha. Are we confused yet? a lesson in folkloric dance and costume terminology. Jareeda, Mar. 1996 and revised Jan. 2000. Disponível em: http://raqsazar.com/areweconfusedyet.html. Acessado em 2-7-2007.
________. Observations on Samri. Zaghareet, Nov./Dec. 1999. Disponível em: http://raqsazar.com/observationsonsamri.html. Acessado em 2-7-2007.
CAMPBELL, Kay Hardy. Loosening their tresses: women’s dances of the Arabian Gulf and Saudi Arabia. Habibi, v. 16, n. 3, Fall 1997.
________. Traditional dancing costume of Saudi Arabia. Sistrum, Feb. 1997. http://bimoraes.sites.uol.com.br/pagina/danca_tipos.html. Acessado em 19-6-2007
Posto aqui uma artigo interessante da bailarina e professora de dança do ventre Nilza Leão sobre um assunto que assombra todas as mulheres que um dia aventam a possibilidade de começar a aprender dança do ventre.
Vamos a ele:
Dança do ventre dá barriga???
por Nilza Leão
Dizer que a Dança do Ventre favorece o aparecimento das barriguinhas indesejadas é uma das premissas mais absurdas que se tem notícia, dentre muitas outras impropriedades que permeiam o universo da dança do ventre.
Pensem comigo: o que é a tão famosa "barriguinha"? Ela nada mais é do que o acúmulo de gordura localizada no abdômen baixo de uma pessoa. Ora, nenhuma atividade física que se tem notícia – não só a dança do ventre – é capaz de tamanha proeza: acumular gordura em determinada região do organismo. O que favorece o aparecimento da "barriga" é a inatividade, o sedentarismo, a preguiça, a má alimentação, os péssimos hábitos de saúde. E isso, definitivamente, não tem nada a ver com a dança do ventre, nem com dança alguma!
Sou capaz de apostar que a associação desastrosa entre a "barriga" e a dança do ventre tenha sua origem, no mínimo, em duas questões:
A primeira, devido à palavra VENTRE que nos remete à "barriga" e tudo o que a ela diz respeito: maternidade, fertilidade e obesidade. Mas o que muitos não sabem, é que o nome original dessa arte magnifícia e milenar é RAKS EL SHARK que significa "Dança do Oriente" em árabe. O nome "dança do ventre" teve sua origem, se não me engano, na França, quando a dança começou a ser difundida no Ocidente. Os franceses, apreciavam os encantadores movimentos de quadril e ventre, sem saber que tais movimentos, na maioria das vezes, são gerados em outras partes do corpo das bailarinas. Repercutem no ventre, mas isso não quer dizer que tenham sua origem nele. Mais um dos mistérios da raks el shark!
A segunda razão para tamanho engano, acredito, está ligada a um fato muito mais honroso e dígno de nota. Ao contrário do que muitos possam pensar, a dança do ventre é extremamente democrática e está ao alcance de todas as mulheres, independentemente de sua faixa etária ou de seu preparo físico. É uma dança popular, que tem suas complexidades, mas pode ser executada por todos que a quiserem praticar. Dançam as gordinhas, as fora de forma, as saradas! Dançam acima de tudo, as mulheres alegres, femininas, sensuais, apaixonadas por si próprias e por toda magia que a dança do ventre possui e representa no imaginário de homens e mulheres.
Você pode até, num último esforço, contestar: "mas até aquelas que praticam dança do ventre, dizem que ela dá barriga!?!" E eu lhe respondo: quem não quer uma boa desculpa para encobrir a própria má alimentação e a dificuldade de abraçar hábitos saudáveis de vida? Quem nunca colocou a culpa em causas externas, pelos quilos a mais na balança? E quem não busca receitas milagrosas para se chegar à silhueta desejada? Quem não quer "ser emagrecido" ao invés de "emagrecer"? Ora, se alguém ou alguma coisa tem o poder de te emagrecer, ele ou ela, também tem o poder de te engordar! Aí, a dança do ventre cabe perfeitamente na desculpa "eu me alimento bem, pratico atividade física dançando, mas a minha barriguinha nada tem a ver com os chopes de fim de semana e os chocolates de todos os dias. Tem a ver com a dança do ventre que pratico somente duas horas por semana".
Então, minha cara amiga, se você quer praticar dança do ventre, o faça sem medo! É uma arte magnífica, extremamente bela e prazerosa. Não perca tempo! Não crie barriguinha sentada no sofá em frente à televisão. Venha pra cá! Junte-se a nós, porque "quem dança é mais feliz"!